Ciclovias bicicletas

Há cada vez mais gente rendida a andar de bicicleta nas cidades, mas a falta de segurança e de infra-estruturas nas ruas ainda são impedimento para muitos. E por isso pedala-se mais nas cidades com ruas consideradas seguras: é essa a principal conclusão do novo estudo da multinacional de estudos de opinião, Ipsos que estudou 28 mercados mundiais: Cycling Across the World: a 28-country Global Advisor Survey.

É na China, no Japão e na Holanda que as pessoas se sentem mais seguras para andar de bicicleta. Para viagens curtas, a bicicleta é o meio de transporte escolhido por 45% da população holandesa, 33% da população chinesa e 27% da japonesa. Na Índia e na Alemanha, são também 21% os que pedalam e 20% na Bélgica.

Mas há países onde a realidade está longe de ser esta: 52% do total de inquiridos responderam que andar de bicicleta na sua cidade é perigoso.

Segundo o estudo do Ipsos, pedala-se mais nos países onde se consideram as ruas seguras. Fonte: European Cyclists’ Federation

É por isso mesmo que 64% concorda que a criação de infraestruturas para bicicletas nas suas cidades faz sentido, uma necessidade que se sente com especial força em áreas mais inseguras como as da América Latina, da Europa de Leste, da Malásia e da Arábia Saudita.

Mas quando por estes dias se discute reduzir o lugar do carro em Lisboa, é interessante saber que segundo este estudo ainda há países onde se defende que o automóvel devia ter prioridade no que diz respeito à construção de infraestruturas: são eles o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália, o Japão e Reino Unido. Na Bélgica e na Noruega, as opiniões estão divididas.

Apesar destas discrepâncias, a bicicleta é vista de forma favorável por todos os países, tal como as bicicletas elétricas. A grande maioria dos inquiridos (86%) considera que andar de bicicleta é importante para a redução das emissões de dióxido de carbono e 80% defende que esta é uma forma de redução do tráfego.

O caso de Ljubljana

Tornar as cidades ciclaveis nem sempre é fácil. Em Lisboa, o debate continua bem aceso, especialmente depois da aprovação da redução dos limites de velocidade na cidade, da polémica com a ciclovia da Almirante Reis, e das restrições à circulação automóvel. Mas há exemplos que provam que é possível.

É o caso de Ljubljana, capital da Eslovénia, onde os cidadãos afirmam que a qualidade de vida melhorou desde que a cidade abriu mais espaço para pedestres e ciclistas, como revela um estudo de mobilidade realizado pelo Eltis realizado para a Velocity. De facto, a cidade verificou uma redução em 70% das emissões carbónicas.

É por ser um caso de sucesso que este ano a Velo-City 2022 se realiza nesta cidade com o tema “Cycling the change”. Em 2007, lançou-se o documento Vision Ljubljana 2025 que traçava medidas concretas para se alterar a mobilidade da cidade.

Tornaram-se pedestres a rua Wolfowa, a praça Preseren e, mais tarde, o mercado Kongresni. Por fim, já em 2015, fechou-se a Slovenska cesta ao tráfego automóvel, uma das principais artérias da cidade. Hoje, esta rua é conhecida como a “sala de estar” de Ljubljana por ser um espaço dedicado aos ciclistas, aos pedestres e aos transportes públicos.

A Slovenksa cesta, antes e depois de ser fechada ao trãnsito. Foto: Eltis

Para além de tudo isto, a cidade ganhou mais de 300 quilómetros de ciclovia e estabeleceu 21 vias de partilha entre ciclistas (algumas dessas vias permitem que os ciclistas andem em sentido contrário ao do tráfego).

Entre 2021 e 2022, instalou 286 suportes para bicicletas e criou lugares de estacionamento para cerca de 600 bicicletas, que se juntaram aos 10 mil já existentes. Este ano, planeia-se ainda criar uma garagem subterrânea para bicicletas.

A cultura da bicicleta também se tornou possível graças ao sistema de partilha que surgiu em 2011, o BoicikeLJ, que hoje conta com 830 bicicletas em 83 estações e com 17% dos residentes a disporem de uma subscrição anual.  

O caminho, aqui, está a ter resultados. No resto do mundo, vão-se somando progressos. Mas a insegurança em muitas cidades ainda parece prevalecer, mesmo que a maioria dos população acredite que a bicicleta faz parte do futuro.


Ana da Cunha

Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.

ana.cunha@amensagem.pt


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