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Alexander Alexandrovich Alekhine é talvez o nosso mais famoso refugiado russo, tornado Alfacinha. Campeão mundial de xadrez durante 17 anos, viveu por cá apenas sete, mas intensos, anos. E intensa foi toda a sua existência.
Nascido aristocrata em 1892 na Moscovo do Czar Nicolau II, cedo se tornou um pequeno génio do xadrez. Aos 9 anos era capaz de jogar de olhos vendados, aos 17 ganha o título de Mestre e aos 22 de Grão-Mestre.
Fiel ao Império, durante a Primeira Grande Guerra, alista-se no exército Branco de Odessa, onde combate os Turcos Otamanos apostados em recuperar a cidade Ucraniana que perderam para a Rússia em 1794.
A revolução bolchevique de 1917 marca-o como espião e é preso. Jogador nato, declara-se defensor do proletariado e escapa ao fuzilamento, para voltar a beijar a causa monárquica assim que os Brancos regressam a Odessa contratando-o como espião russo.
Constituída a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ainda vence o 1º campeonato soviético de Xadrez, não aguenta tanta tensão e pisga-se para Paris, onde passa a jogar pela França, colecionando títulos.
Durante a Segunda Guerra Mundial continuou a jogar em territórios ocupados como se nada fosse e ainda participou em vários torneios na Alemanha de Hitler. São-lhe atribuídos nessa época vários artigos de conteúdo antissemita com títulos do género Aryan and Jewish Chess. Acabada a guerra, é considerado persona non grata pelas organizações internacionais de Xadrez.
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Alekhine era um jogador permanente, observador meticuloso, agindo sempre por antecipação. Já antes, no ano de 1940, tinha resolvido mudar de mesa, mudando-se para Lisboa, capital de país neutral.
Aqui organiza vários torneios, funda o grupo de xadrez do Porto, é presença em simpósios e debates, promove a modalidade entre os jovens. Por sua influência, em 1944, a Secretaria de Estado da Educação promove o Xadrez à categoria de desporto intelectual e, em 1947, é fundado em Lisboa o Grupo de Xadrez Alekhine.
En passant, mesmo na tranquila Lisboa o criador da célebre defesa que guarda o seu nome não conseguiu defender-se dos seus inimigos. Russo apátrida e anticomunista, simpatizante nazi disfarçado e antissemita indisfarçado, é encontrado morto, baleado, no Estoril, a 24 de março de 1947.
Xeque-mate? Ainda não… Mesmo depois de morto, continuou em jogo – na sua certidão de óbito que demorou a ser lavrada, a Torre, como quem diz o Portugal sereno de Salazar, fechou o partida como “paragem cardíaca”.
Sepultado no Alto de São João às custas de Manuel Esteves, um amigo xadrezista alfacinha, e da Federação Portuguesa de Xadrez, por cá ficou até ser reclamado em 1956 por Paris onde se encontra até hoje na sua última jogada, no tabuleiro eterno de Montparnasse.

Nuno Saraiva
Lisboeta empedernido, colaborou praticamente em toda a imprensa nacional. Cartunista político, o seu traço é o traço de Lisboa, é o autor das imagens das Festas de Lisboa de 2014 a 2017, criador dos troféus das marchas, e há 10 dos seus murais nas paredes da cidade. O seu livro Tudo isto é Fado! ganhou o prémio do Festival internacional de BD Amadora. Dá aulas na Lisbon School of Design e na Ar.Co. São dele todos os desenhos na homepage da Mensagem.