Patrícia Luz, da Associação Príncipe + Real. Foto: Orlando Almeida

A aventura começou há uns anos. “Alguns interlocutores do bairro tinham vontade de estabelecer uma rede de comunicação”, conta Patrícia Luz. E, finalmente, no próximo dia 9, sábado, a aventura chega a bom porto, com um encontro marcado com todos os moradores, com o objetivo de criar uma “a comunidade de bairro” no turístico, central e desejado Princípe Real. “Príncipe + Real” é o nome da associação.

A ideia começou a ganhar corpo em tempos de pandemia, talvez exatamente porque o bairro estava esvaziado de turistas, explica Patrícia. Durante esses tempos, os primeiros sonhadores traçaram caminho através de reuniões online, convocando a presença de Patrícia, amiga de Tiago Eiró, CEO do EastBanc – uma imobiliária que tem investido na zona – e um dos fundadores do projeto.

É um projeto talvez atípico, tal como a própria Patrícia descreve. “Não é uma associação de comerciantes, mas também não é de moradores”, esclarece. “A ideia não é servir nenhum interesse específico, é sentir que todos pertencemos ao bairro e que, em conjunto, vale a pena entrarmos em diálogo”.

E, quando se fala em “todos”, entenda-se mesmo “todos”: “Empresas, lojas grandes e pequenas, moradores, e, dentro dos moradores, a comunidade estrangeira”, especifica.

Apesar de nunca ter morado no Príncipe Real, Patrícia passara grande parte da sua infância nas proximidades, e sempre se interessara pelo conceito de vizinhança e de valorização do que é local. O facto de não ser moradora, considera, permitir-lhe-á desempenhar um “papel de isenção”.

Patrícia Luz foi convocada por Tiago Eiró, CEO do EastBanc, para assumir as rédeas da nova associação “Príncipe + Real”. Na sua perspetiva, o facto de não ser moradora permitir-lhe-á desempenhar um “papel de isenção”. Foto: Orlando Almeida.

Planear um futuro num bairro da moda

Com estas ideias em mente, começaram a dar-se os primeiros passos: em outubro do ano passado, os recém-membros da “Príncipe + Real” percorreram as lojas do bairro, batendo de porta em porta, e tentaram reunir o número máximo de contactos, comunicando-lhes a intenção de construir uma associação.

Assim, o pequeno grupo alargou-se, passando a ser constituído por 15 pessoas, entre elas alguns moradores particulares e membros da EastBanc, da Uzina, da Príncipe Real Advogados, do Hotel Memmo, da Lacrima, do Plateform, da Casa Oliver, do Isto e do Imógavea, tornando-se estas empresas sócias da iniciativa.

Celebração, no Hotel Memmo Príncipe Real, do registo oficial da Príncipe + Real na conservatória.

Pôs-se mãos na massa. Estabeleceram-se os objetivos, redigiram-se os estatutos e constituiu-se a associação. Seguiu-se uma segunda convocatória dos moradores e, no passado dia 15 de setembro, registou-se a associação formalmente.

Por fim, no sábado, dá-se o tão aguardado lançamento, no jardim do Príncipe Real, mítico espaço de Lisboa e que tão bem caracteriza a comunidade deste bairro.

“Não temos um espírito reivindicativo, mas sim construtivo”

A “Príncipe + Real” tem como principais objetivos trabalhar a coesão, de forma a “criar-se um sentido de identidade das pessoas que cá vivem”, consolidando-se os “vínculos de vizinhança” que tantas vezes têm vindo a perder-se nas cidades modernas.

São, aliás, estes vínculos que permitem que os mais vulneráveis sejam protegidos através de sistemas de inter-ajuda entre vizinhos, salienta Patrícia.

O Princípice Real ainda tem vida própria, com muitos habitantes no bairro. Foto: PremshreePillai_Flikr

Para além disso, a “Príncipe + Real” pretende melhorar o bairro, não só na qualidade de vida, mas também do “trânsito, da iluminação, da gestão dos lixos”. E, por último, tenciona promover a dinamização, não com o “objetivo cego de trazer ainda mais vida ao bairro”, que isso, certamente, não precisa, mas sim de “procurar o que é identificativo”, organizando-se atividades que lhe são características.

“Poderemos ser uma voz de ligação, uma voz que represente as pessoas do bairro e que represente as preocupações dos moradores. Não temos um espírito reivindicativo, mas sim construtivo”, sintetiza Patrícia Luz.

E é assim que dia 9 se segue em frente, estabelecendo-se o objetivo de se angariarem mais e mais sócios. “Temos uma expectativa grande de que as pessoas entendam a nossa filosofia, a nossa intenção, e tenham vontade de se juntar”, explicita a responsável.

Encontro no jardim

O encontro está marcado para as 17h, e vai contar com música, histórias do bairro, desenhos a olho nu, passeios em trishaws (do projeto “Pedalar sem idade”, movimento que promove passeios para pessoas mais velhas), um mercado e ainda uma happy hour nos quiosques dos jardins.

A partir das 19h30, no jardim da EmbaiXada (nas traseiras), haverá um momento muito especial: “um concerto ao contrário”. “Teremos um maestro que vai ensaiar o público. É uma iniciativa social de empoderamento”, sublinha Patrícia. “É algo mesmo forte e intenso: cantar em comunidade”.

A entrada é gratuita e todos os moradores do bairro estão mais que convidados.

Depois, será altura de entrar “em fase de tela em branco”, diz Patrícia. “Vamos juntar-nos, virar-nos para esta tela e perguntar o que gostaríamos que acontecesse, o que seria o melhor para o bairro”.

Este é o início. E um início que cimenta aquela que é a grande missão da “Príncipe + Real”: “Recuperar espaços de pertença e de proximidade”.


Ana da Cunha

Nasceu no Porto, há 27 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.

ana.cunha@amensagem.pt

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