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As mudanças nas Juntas de Freguesia de Lisboa são o espelho da nova liderança municipal – isto apesar de Carlos Moedas ter de enfrentar, quer na Câmara, quer na Assembleia de Freguesia, uma maioria de esquerda. A coligação Novos Tempos conseguiu virar as Juntas de Alvalade, Avenidas Novas, Lumiar, Parque das Nações, Arroios, São Domingos de Benfica – já tinha Estrela, Santo António, Belém e Areeiro, que manteve. O PS conquistou mais três juntas do que o PSD.
O mapa destas mais pequenas unidades do poder local alterou-se. E nele podem ler-se mais dados, nomeadamente na abstenção, que terá favorecido Moedas, e sobre a crescente importância dos pequenos partidos, mais expressiva do que nas eleições maiores.
As pessoas foram menos votar em lugares onde o PS tem tradicional implantação – e onde aliás ganhou estas eleições. E a abstenção subiu mesmo em relação ao ano eleitoral anterior, 2017. Entre as freguesias que votaram menos pessoas estão:
- Santa Maria Maior: 39,2% (42,9 em 2017)
- Marvila: 40,8% (43,1% em 2017)
- Santa Clara: 41,1% (42,4% em 2017)
- Penha de França: 45,2% (46,9 em 2017)
- São Vicente: 46,7% (49,3% em 2017)
- Ajuda: 47,4% (49,8% em 2017)
- Campolide: 49,5% (50,9 em 2017)
No sentido inverso, nas freguesias que viraram à direita houve claramente mais votantes, e até mais do que em 2017:
- Lumiar: 57,6% (54,9% em 2017)
- Parque das Nações: 57% (51% em 2017)
- Alvalade: 56,4% (54 em 2017)
- Avenidas Novas: 56,32% (54,2% em 2017)
A exceção aqui é São Domingos de Benfica.
Ou seja, houve aqui um impulso para votar entre os que foram votar pela mudança. E menor mobilização entre quem habitualmente vota à esquerda. E poderia votar na manutenção de Fernando Medina. A explicação concreta só saberemos com estudos de opinião.
Na Ajuda e em Alcântara o teve as suas maiores vitórias com 51,48% e 53,65% dos votos.
Arroios ingovernável?
Caso que sai fora deste baralho é o de Arroios, em que só foram votar 44,2% das pessoas registadas – na freguesia com mais estrangeiros da cidade – menos 1,79 pontos percentuais, e mesmo assim virou à direita com a coligação Novos Tempos a arrebatar o governo da Junta a Margarida Martins.
Os resultados desta Junta de Freguesia são uma complicada geringonça (mas esta sem gestão óbvia). A coligação Novos Tempos elege 6 representantes, Mais Lisboa, 5, CDU, 3 e Bloco de Esquerda, 2. À direita, o Chega elege um representante. E o Pan também.
Nas Juntas de Freguesia, tal como na Câmara, não há geringonças para a liderança – numa espécie de cautela que os legisladores de 1976 tiveram em relação ao poder local. Portanto quem ganha a maioria dos votos é quem governa, mesmo que não tenha condições para isso nos orgãos municipais. O que se tentou encorajar foram as alianças e a participação comunitária. Ver-se-á os efeitos disso em 2021, numa época de polarizações e pouco dada a coligações pouco naturais.
Em Arroios e no Lumiar o PS perdeu quase mais votos do que a diferença com que Moedas ganhou. No Lumiar o PS perdeu 2438 votos. A coligação que juntou o PSD e o CDS ganhou 1349. Em ambos os casos havia duas estrelas mediáticas do partido à frente das Juntas: Margardia Martins e Pedro Delgado Alves. Este último é substituído pelo médico epidemiologista que se tornou conhecido com a pandemia, Ricardo Mexia.
Avenidas Novas com maioria diferente
Na Junta de Freguesia das Avenidas Novas, onde o histórico dirigente social-democrata Daniel Gonçalves, arrebatou as eleições a Ana Gaspar, do grupo Cidadãos por Lisboa, que surpreendentemente tirara a Junta à direita em 2017, por mais de 2 mil votos.
A coligação Novos Tempos ganhou uma maioria clara de 9 representantes, e conta ainda mais com 1 representante da IL e outro do Chega (bem presente nesta freguesia). CDU e BE elegeram apenas 1 representante.
No Lumiar houve uma inversão de papéis:
A força dos pequenos partidos começa a ver-se
Em Lisboa começa a traçar-se a entrada da Iniciativa Liberal e do Chega nos mais próximos orgãos autárquicos, as Assembleias de Freguesia.
A Iniciativa Liberal elegeu representantes nas Juntas de Freguesia em:
- Alcântara
- Alvalade
- Areeiro
- Arroios
- Santo António
- Lumiar
- Estrela
- Campo de Ourique
- Parque das Nações
- Campolide
- São Domingos de Benfica
- Avenidas Novas (2)
- Belém
O Chega elegeu representantes em:
- Benfica
- Beato
- Arroios
- Alvalade
- Lumiar
- Avenidas Novas
- Olivais
- Penha de França
- Santa Clara
- Marvila (2)
Note-se que em Santa Clara, uma das freguesias mais pobres (e desiguais) da cidade, o Chega tem mais repesentantes do que o Bloco de Esquerda. Em Marvila acontece o mesmo – mas em termos de votantes.
Em Santa Clara, o Bloco de Esquerda perdeu 152 votantes, o PS 1452, o PCP 580. E o Chega que concorre pela primeira vez teve 580 votos. O Novo Futuro teve mais 82 votos que o PSD e CDS há quatro anos.
Em Marvila, o PS perde 435 votos, o PCP perde 577, o BE 152, e PSD 461. O Chega teve 1247 votos.
A Iniciativa Liberal tem mais votantes que o Bloco de Esquerda em Campolide. E elege dois representantes nas Avenidas Novas, atingindo os 9,10%, a maior percentagem na cidade – no lugar onde o metro quadrado é dos mais caros do país.
O Pan elegeu representantes em Arroios, Penha de França e Olivais.
Estas mudanças significam para os pequenos partidos um início de uma implantação no tecido político e nos orgãos autárquicos. Dá-lhes acesso a decisões e torna-os mais visíveis. Podia dizer-se que é o começo de uma máquina partidária a acontecer. Logo se verá o seu percurso.
Dos grupos de cidadãos concorrentes só os vizinhos do Mudar Alvalade foram eleitos para a Junta. A sua luta começou na guerra da piscina da Penha de França e a utilização pelo grupo Associação de Estrelas de São João de Brito.
Catarina Carvalho
Jornalista desde as teclas da máquina de escrever do avô, agora com 49 anos está a fazer o projeto que melhor representa o que defende no jornalismo: histórias e pessoas. Lidera redações há 20 anos – Sábado, DN, Diário Económico, Notícias Magazine, Evasões, Volta ao Mundo… – e segue os media internacionais, fazendo parte do board do World Editors Forum. Nada lhe dá mais gozo que contar as histórias da sua rua, em Lisboa.
Olá bom dia.
Segundo os resultados eleitorais (https://www.autarquicas2021.mai.gov.pt/resultados/territorio-nacional?election=AF&local=LOCAL-110662), na Assembleia de freguesia do Parque das Nações não ocorreu a eleição de vereador do partido “Chega”.
Quando puderem, corrijam a informação.
Corrigindo um conceito do comentário anterior, o correto é deputado para a Assembleia de freguesia.
Sem outro assunto,
Agradeço a possibilidade de puder comentar.
Vamos já corrigir. Obrigada!!
Agradeço a possibilidade de poder comentar, para dizer que não houve surpresas nestas eleições, nos bairros onde vive a chamada classe média (os ricos …?) ganhou a Direita, nos bairros onde vive a classe baixa (o Povo …?) , ganhou a Esquerda, não há nada mais habitual e lógico, não vale a pena fingir grandes surpresas, embora direita e esquerda, não passem de alcunhas, tabuletas enganadoras, pois em política o mais habitual é o fingimento … ” o engana-me que eu gosto ” …
Bom trabalho, Catarina.
Olá. Não está a faltar uma legenda na Figura para perceber o que é rosa, verde e azul?
Ajudava. Obrigado e cpts
PF