Manuela Gonzaga chegou à Brasileira atrasada, num final de tarde de campanha, uma campanha que é uma primeira vez para a jornalista e escritora – e historiadora – em 70 anos de vida.

Está entusiasmada com este desafio “muito estimulante” que aceitou para servir o partido que já é o dela, há anos, mas pelo qual nunca dera a cara publicamente. Nesta conversa, também com a nossa cronista Susana Moreira Marques, quase não se falou de animais.

“Lisboa é a minha história, quando aqui cheguei foi como chegar a casa – aqui, por exemplo, na Brasileira”, conta para falar da sua vida noutras paragens, Angola e Moçambique nomeadamente. “Tenho uma História muito profunda e muito visual com Lisboa.”

É também por isso que sente que conhece melhor Lisboa que os outros candidatos. “Estou numa situação mais priviligiada porque sei do que estou a falar. Quanto mais amas mais conheces quanto mais conheces mais amas. E a cidade é as suas pessoas. E eu conheço as pessoas de Lisboa.”

Os tempos mais agitados da cidade, que Manuela viveu no auge da sua carreira jornalística, foram a da cidade nos anos 80. A da estlista Ana Salazar – que conheceu bem, e que a vestia – e de António Variações – de quem escreveu a biografia. “Esta Lisboa dos anos 80 era a sensação de que tudo é possível. Não tenho saudosismo. Mas era de perceber a necessidade absoluta de um horizonte de sonhos – de loucura, de expetativas – o reconhecimento da insubstancialidade do ser que é isso que nos ajuda a transcender a não ter medo. Fazer coisas que não era suposto serem feitas.”

Essa substância do sonho foi o que a moveu. E agora, que conhece melhor a CML e Lisboa, não tem dúvidas: “O futuro tem mesmo de ser feminino ou não temos futuro. Há homens demais na política, na Câmara. Aqueles debates, cheios de testosterona mostraram isso. Saí de lá a pensar que não tinha conseguido passar a minha mensagem. Nós temos de trabalhar com os dois hemisférios, temos de olhar para a coisa de forma integrada.”

No primeiro debate, na SIC, Manuela mandou calar Nuno Graciano, num gesto muito aplaudido nas redes sociais. “Mas foi completamente espontâneo. E quando vi as redes fiquei estarrecida”, conta.

Que cidade conhece hoje que não conhecia?

“Aprendi muito sobre a grande solidao a que as pessoas estão entregues por isso é que estão a comprar sonhos estranhos – qualquer coisa é melhor que isto onde elas estão. Ninguém ouve as pessoas. Ninguém. Não é um ouvir, ouvir mesmo. É avassalador.” E a Manuela? “Eu sinto-me muito próxima e empática (isso foi o que o jornalismo me desevolveu mais, saber ouvir as pessoas falar). Quando ouço os candidatos a falar sinto que eles estão fora. Não tocaram a essência das pessoas. Temos de abrir as portas da Câmara e deixar ouvir as vozes das pessoas e ter espaço para solucionar os problemas.”

Pode optar por ouvir a conversa aqui:

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