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João Ferreira garante que mais esta corrida a que concorre pela CDU não é mais um ponto no currículo para secretário geral do PCP. “Por mim continuaria na Câmara nos próximos anos. É esse o meu desejo imediato. Essas teses, que ganham forma entre os jornalistas, não têm nada a ver com o que eu disse nem com o que deseje”, disse, na Conversa n’A Brasileira do Chiado com a Mensagem. Nem outra coisa seria de esperar, sobretudo quando as sondagens colocam a CDU num lugar interessante e sem perda de lugares em relação aos que já tinha.
O candidato teve, nesta entrevista, uma performance semelhante à de outros debates – conhecimento dos dossiers a fundo e pouco desvio do que traçou no seu programa. Atacou o Bloco de Esquerda, na questão da habitação, quando esteve a apoiar Fernando Medina, com os “maiores orçamentos de sempre”, e mesmo assim não se cumpriram as promessas de mais habitação a custos controlados. Aí reside a diferença entre o PCP e o BE?
“Há linhas de separação quer do ponto de vista programático quer de capacidade de execução – habitação, espaço publico, ambiente- que vêm de outros momentos em que foram cumpridos. E isso eu não encontro noutras forças”.
As alfinetadas em direção do Bloco – com quem o PCP disputará também, num jogo de conveniências internas e interesses externos, o apoio e coligação com o PS e Livre, caso não haja maioria – continuaram, no que diz respeito aos Direitos Sociais, vereação do bloquista Manuel Grilo. “Quando durante a pandemia se soube que havia sobrelotação de hostels, o responsável desta maioria na Câmara diz que nem sequer sabia que isto acontecia. Fico muito mal impressionado com isso.”
De Bruxelas, para onde não irá voltar, João Ferreira trouxe exemplos de mobilidade suave. “Bruxelas tem consolidada a bicicleta como modo de deslocação. Está num estágio avançado de coexistência pacífica e segura dos vários modos de transporte – até as bicicletas andam em faixas bus, podem andar em sentido contrário aos das ruas… Nada disso desperta o tipo de conflitos que uma medida dessas podia despertar se fosse feita sem preparação, em Lisboa.”

Não será a questão das bicicletas uma questão para classe média alta, e pouco apelativa para o eleitorado comunista?
João Ferreira defende-se: “Temos noção disso e transportamos isso para o que fizemos neste ultimo mandato. A opção que a CML fez de subsidiar a compra de bicicletas é um problema porque quando falamos de elétricas – que era a única proposta inicial – vai gastar dois ou três milhões a financiar famílias de rendimentos médios e altos, muitos deles já comprariam… Quando podia e devia aplicar esses recursos em garantir que as partilhadas chegam mais longe e a mais gente. Alguém de mais baixos rendimentos – e há muita gente na cidade – mesmo com apoio não consegue aceder.”
Lisboa, menina e moça – canção que João Ferreira gostaria de ter escrito e da qual o seu partido cedeu os direitos de autor à cidade – tem ainda muito para fazer e aprender. Na gestão do turismo, por exemplo – podendo, nessa área, aprender com Barcelona: “Precisamos de regular o turismo e incluí-lo no planeamento da cidade – conseguir uma compatibilização. Nós propomos, a Carta Municipal do Turismo – definição de capacidade de carga turística – que vai beber a experiências de outras cidades.”
E também naquilo que está plasmado no slogan dos comunistas, o direito à cidade. “Precisamos de ter formas mais coletivas e comunitárias de apropriação da cidade. Os benefícios da cidade estão distribuídos de forma muito desigual. E aí a Câmara não tem de se substituir ao que existe e tem vitalidade para transformar a cidade – isto vai desde um bairro às associações”, explica o candidato.
O mesmo se aplica à cidade a duas velocidades. “Veja-se a reabilitação urbana que tem prevalecido em Lisboa – e bastante exaltada, pela maioria, por exemplo, que fala da Baixa viva e com vida. Que se cinge ao edificado. Esquece-se de tudo o resto, do processo de gentrificação que alterou a composição social dessas zonas, que é essencial à identidade dos sítios. São as pessoas que conferem densidade à cidade. Os edifícios precisavam de ser reabilitados. Mas quando essa reabilitação desconsidera as pessoas e o seu direito ao lugar… É uma reabilitação feita pelo mercado descurando o que devem ser as políticas públicas – descurando a dimensão humana, ética e social que tem de garantir que quem ocupa esses lugares tem direito a ocupar esses lugares.”
Pode optar por ouvir a conversa:

Catarina Carvalho
Jornalista desde as teclas da máquina de escrever do avô, agora com 51 anos está a fazer o projeto que melhor representa o que defende no jornalismo: histórias e pessoas. Lidera redações há 20 anos – Sábado, DN, Diário Económico, Notícias Magazine, Evasões, Volta ao Mundo… – e segue os media internacionais, fazendo parte do board do World Editors Forum. Nada lhe dá mais gozo que contar as histórias da sua rua, em Lisboa.
✉ catarina.carvalho@amensagem.pt
Adoro a mensagem, sou leitora assídua. Uma lufada de ar fresco na comunicação social. Estas entrevistas são ótimas, contudo, lamento não se incluir todos os candidatos a Câmara. No debate da RTP1 houve 3 candidatos que até tinham algumas ideias interessantes para a cidade, mas que não tem tanta oportunidade de aparecer. Seja como for, parabéns pela iniciativa