Naquele dia, bastaram nove minutos para devastar Lisboa. Foi a 1 de novembro de 1755. E são hoje muitos os especialistas que alertam para a memória desse tempo para que os lisboetas possam preparar-se para um sismo, como o que fez desaparecer cerca de 17 mil edifícios e milhares de habitantes da história da cidade.
Diz quem estuda estes fenómenos que voltará a acontecer, nestas dimensões ou semelhantes, só não é possível prever quando.
O risco deve-se muito à falha tectónica existente no vale do Tejo, como explica o especialista e antigo presidente da Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES), João Azevedo. No ano passado, resultou num sismo de 5,3 (na escala de Richter) sentido na madrugada do dia 26 de agosto, pelas 5h11, com epicentro a 60 quilómetros a oeste de Sines. Terá sido o décimo maior sismo desde o século XVI. Sem danos a registar, a Proteção Civil disse ter recebido chamadas do Alentejo a Coimbra para este sismo que já teve nove réplicas, pequenas o suficiente para não terem sido sequer sentidas.
“Temos dois tipos de sismo. Aqueles como o que aconteceu em 1755, que ocorrem a uma grande distância, em que o epicentro é a sul do Algarve e que tendem a ser muito grandes. Podem ter magnitude de oito para cima. Depois, temos os sismos que são gerados numa falha que existe no vale do Tejo, que não serão tão grandes – terão magnitude máxima na ordem dos seis ou sete -, mas como são muito perto podem causar muita destruição. Como é o exemplo do sismo de 1531″, explica o especialista.
O que sabemos é que a Lisboa de hoje é mais populosa e, logo, tem um risco acrescido ao de 1755. Por outro lado, segundo os Censos de 2021, 23,4% da população tem mais de 65 anos, muitos destes idosos vivem sozinhos (42,8%, em 2011) em habitações anteriores à década de 1960 e na metade estimada do edificado lisboeta em risco de colapso ou danos graves em caso de sismo.
Então, o que podemos fazer para nos proteger? Como agir em casa? E quais as zonas seguras na cidade para onde deve ir se estiver na rua? Preparamos uma espécie de manual para lisboetas.
Sabia que…?
A maioria dos sismos significativos dura menos de um minuto.
Um terramoto 7.0 na escala Richter (um dos valores mais elevados) geralmente dura cerca de 10 a 30 segundos.
Sabe para onde deve ir em caso de tragédia? Veja aqui os pontos de encontro mais próximos
O manual de um lisboeta para os sismos
Mónica Amaral Ferreira, especialista em resistência sísmica, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, ajuda-nos a elaborar uma espécie de manual com orientações sobre como devemos agir perante a ocorrência de um sismo – e até um eventual tsunami.

Se muita da responsabilidade da nossa sobrevivência depende de nós, Mónica Amaral Ferreira lembra também a importância dos especialistas e das autoridades em informar a comunidade. Mas sempre com regras: “Não devem saturar as linhas de emergência. Aliás, em caso de sismo de maior intensidade, as redes elétrica e de telecomunicações apresentam falhas – parciais ou completas”, alerta. Por isso é tão fundamental que cada um faça a sua parte para garantir o bem-estar de todos.
A campanha “Mover, Proteger e Fixar”, criada pelo Instituto Superior Técnico em parceria com universidades, laboratórios e centros de investigação de Itália e da Islândia, dá inclusive dicas práticas e simples sobre como preparar os edifícios – seja apartamentos, escolas ou locais de trabalho – em caso de sismos.
E a especialista Mónica Amaral Ferreira sintetiza essas práticas:
Antes de um sismo:
Elabore um plano familiar
É importante que as tarefas sejam distribuídas de modo a que cada um saiba a sua função, como procurar os documentos, desligar a eletricidade, monitorizar crianças, idosos ou outras pessoas com necessidades especiais.
Ponto de encontro
O stress do momento pode causar confusão. Mas ter um local definido para o reencontro ajuda a garantir que todos sabem para onde ir, não se perdem ou deixam alguém para trás. Há inclusive freguesias com locais de abrigo já definidos – consulte mais abaixo quais são.
Kit de emergência
Guarde em local de fácil acesso um kit com água potável para três dias, comida, medicamentos, lanterna, rádio, pilhas e um apito. No Japão, por exemplo, um país frequentemente abalado por sismos, é normal haver uma mochila de emergência preparada em casa – saiba mais sobre boas práticas internacionais nos seguintes capítulos.
Proteja a casa
Prenda estantes, computadores e equipamentos elétricos. Fixe bem ventoinhas e iluminações suspensas, assim como espelhos e molduras.
Conheça as zonas mais vulneráveis de Lisboa
Sabia que a vulnerabilidade na freguesia de Alvaalade é “Muito Alta”, ao longo do Campo Grande, eixo de Entrecampos e na proximidade da rua das Murtas? É o que nos indica a “Carta de Vulnerabilidade Sísmica dos Solos” de 2008. No resto da freguesia a área é de “Alta Vulnerabilidade” e “Média”.
É a “Carta de Vulnerabilidade Sísmica dos Solos” que mostra o zoneamento da freguesia de acordo com o comportamento das formações geológicas superficiais, face à propagação das ondas sísmicas, classificando Alvalade com Classe Alta (formações predominantemente arenosas consolidadas/solos incoerentes compactos) e Média (formações argilosas/rochas de resistência média a elevada).
Toda a zona ribeirinha, além do Campo Grande, é aquela que, de acordo com o documento, apresenta maior vulnerabilidade sísmica.
Durante um sismo:
Se estiver num edifício
Mantenha a calma. Permaneça em posição fetal debaixo de uma mesa robusta ou da cama, longe de janelas e objetos que possam cair.
Se estiver na rua
Dirija-se até um local aberto e sem obstruções. Afaste-se de pontes, postes, cabos de alta tensão ou edifícios.
Se estiver a conduzir
Pare a viatura e permaneça dentro dela. Aguarde até ter certeza de que a situação está segura para continuar.
Se estiver perto do mar (ou rio)
Afaste-se para uma zona alta e distante da costa ou mesmo do rio. Não, correr na direção do Terreiro do Paço não é o correto. A regra é: quanto mais longe da água, melhor – depois de um sismo, devemos estar atentos a possíveis alertas de tsunami.
Depois de um sismo:
Calce botas ou sapatos resistentes
Para se proteger de destroços, vidros e outros riscos que possam causar cortes, perfurações e ferimentos.
Suspenda gás e eletricidade
Esta é uma medida de segurança crucial para evitar acidentes, incêndios e explosões. Não utilize o elevador. Se tiver de usar as escadas, verifique se resistem.
Abandone o edifício
Dirija-se para o lado de fora. Os prédios podem sofrer fissuras e danos estruturais com perigo iminente de desabamento.
Dirija-se para locais de apoio
Caso precise de apoio, saiba que há freguesias que estipulam lugares de abrigo, onde é cedida alimentação, água, outros bens essenciais, e onde pode recolher mais informação sobre a ocorrência.
Saiba que sítios são esses mais abaixo.
Sabia que…?
O jogo online Treme-Treme foi desenvolvido por uma equipa do Instituto Superior Técnico para sensibilizar as crianças para o tema do risco sísmico. Com ele, é possível construir um kit de emergência, descobrir que perigos existem dentro e fora de casa e quais as orientações adequadas para situações de crise. A ferramenta está disponível em português, inglês, italiano, francês e espanhol, é distribuída gratuitamente no site e conta com uma versão para Android na Google Play.
E em caso de tsunami?
Já deve ter visto, pelas ruas de Lisboa, uma placa que indica o “caminho de evacuação” em caso de perigo de tsunami. Foram implementadas em 2022 e podem até assustar os cidadãos, lembrados do risco que corremos, mas são uma das várias medidas de prevenção que a Câmara Municipal de Lisboa está a tentar endereçar.

Ainda que o aviso de tsunami só aconteça quando é registado um sismo de 6,0 ou mais na escala de Richter (o desta semana foi de 5,3), há maneiras de prevenir danos maiores:
ANTES:
Informe-se
Entenda as causas e efeitos possíveis de um tsunami na sua zona. O município de Lisboa dispõe de uma Carta de Risco de Inundação por Tsunami.
Pesquise
Há um Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami no Estuário do Tejo, da Área Metropolitana de Lisboa, que inclui sirenes de alerta, sinalização de percursos de evacuação e pontos de encontro.
DURANTE:
Afaste-se imediatamente para um local distante e elevado:
Se sentir dificuldade em permanecer de pé com um sismo forte ou prolongado
Se vir um recuo ou avanço abrupto do nível do rio/mar
Se ouvir um barulho diferente vindo do rio/mar
Se receber um aviso de alerta de tsunami ou mensagem emitida pelas autoridades
DEPOIS:
Evite áreas danificadas
Estas regiões continuam instáveis após o primeiro impacto. Novas ondas podem surgir, e ainda maiores. Mantenha-se afastado do local até que as autoridades declarem que é seguro.
Mantenha-se atualizado
Sintonize o rádio e esteja atento às indicações das autoridades. Isso ajuda a entender melhor a situação e a tomar decisões informadas.
Faça contacto
Avise que está em segurança, assim que possível, para evitar pânico entre amigos e familiares.
Sabia que…?
O Sistema de Aviso e Alerta de Tsunami no Estuário do Tejo já foi testado
No dia 1 de março, a Proteção Civil Municipal de Lisboa promoveu um exercício de treinamento para o risco de tsunami, com uso de sinal sonoro na zona ribeirinha do centro histórico da cidade. As sirenes foram acionadas na Praça do Império (em Belém) e na Ribeira das Naus (Praça do Comércio), como parte da ação de sensibilização direcionada às freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia.
Na ocasião, foi divulgada uma planta de evacuação, que seriam os pontos para os quais as pessoas podem dirigir-se. As regiões consideradas seguras foram seis: Jardim de Santa Catarina (ou Jardim do Adamastor), Praça Luís de Camões, Rossio, Praça da Figueira, Rua da Madalena e Rua do Museu de Artilharia.
Caso haja de facto um tsunami, o aviso será dado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Em seguida, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) será informada e enviará o alerta para o sistema sonoro. O projeto prevê ainda a instalação de painéis informativos digitais e sinaléticas verticais de evacuação de emergência, indicando os percursos a serem feitos em segurança.
Freguesia a freguesia, o que está planeado
“Planeamento Local de Emergência” ou “PLE” pode soar-lhe estranho, mas é por aqui que começamos quando queremos saber se a cidade está ou não preparada para proteger os cidadãos em caso de uma catástrofe natural, como um sismo.
Foi elaborado em 2018 pela Câmara Municipal de Lisboa. A ideia é desenhar o que será uma ferramenta de prevenção a nível hiperlocal, “dotar as Juntas de Freguesia de um Centro de Operações de Emergência (COE)” e “organizar grupos de voluntários locais capazes de colaborar e participar em atividades no âmbito da proteção civil”.
Das 24 freguesias de Lisboa, apenas nove dizem possuir um PLE disponível nos respetivos sites. São elas as freguesias de Alvalade, Arroios, Lumiar, Misericórdia, Penha de França, Parque das Nações, Santo António, São Domingos de Benfica e Campo de Ourique (da autoria de um grupo de cidadãos, que trabalha em parceria com a junta). Mas só quatro os mantêm disponíveis de acesso fácil aos cidadãos (nos respetivos sites) – são elas Olivais, Alvalade, Parque das Nações e Campo de Ourique. Umas com documentos mais atualizados do que outras.
Contactadas pela Mensagem já no final do ano passado, as Juntas de freguesia do Areeiro, Avenidas Novas, Beato e Belém informaram que se encontram em fases finais de elaboração dos respetivos planos.
Se a sua freguesia tem um plano disponível, consulte aqui o que está planeado:

Alvalade compromete-se a:
- “Providenciar, de forma concertada, as condições e a disponibilização dos meios indispensáveis à minimização dos efeitos adversos de eventos de emergência dos três níveis de alerta”
- “Desenvolver, juntamente com as entidades envolvidas nas operações de proteção civil e socorro, o nível adequado de preparação de emergência, de forma a criar mecanismos de resposta imediata e sustentada, sobretudo nas primeiras 72 horas pós-evento”
- “Promover estratégias que assegurem a continuidade e a manutenção da assistência, bem como possibilitem a reabilitação, com a maior rapidez possível, do funcionamento dos serviços públicos e privados essenciais, bem como das infra-estruturas vitais, de modo a limitar os efeitos do evento de emergência”
- “Promover a realização de treinos e exercícios, sejam de carácter setorial junto de cada grupo, sejam de forma global”
- “Caso não consiga contactar alguma das entidades de prestação de apoio, deverá ser de imediato acionada uma ação operacional, deslocando-se de imediato o COE (Centro de Operações de Emergência) para as zonas afetadas, com uma equipa de reconhecimento composta por técnicos da Proteção Civil e das Forças de Segurança, sempre que possível. Esta equipa deverá proceder a uma rápida avaliação da situação local, com recurso a todos os meios disponíveis. Consoante o cenário que se verifique, fará avançar de forma organizada e coordenada os meios previstos neste Plano“;
- Definir pontos de encontro, para onde a população se pode dirigir. São eles:
Estádio 1.º de Maio/INATEL (Avenida Rio de Janeiro);
Espaço da Alameda da Universidade de Lisboa/REITORIA (Alameda da Universidade);
Estádio Universitário de Lisboa/UL (Avenida Professor Egas Moniz)
A freguesia apresenta ainda um mapa que regista o seu risco sísmico, por zonas:


Parque das Nações
compromete-se a:
- Assegurar equipamentos, bem como lanternas, jerricãs com água, mantas térmicas, extintores, ligação do gerador para recarregar lanternas, expor cartas atualizadas das zonas de risco da freguesia;
- “Promover ações de socorro, busca e salvamento”
- “Proceder à sinalização de infraestruturas, nomeadamente viária para uma utilização mais rápida e eficaz por parte dos meios de proteção civil e socorro”
- “Promover ações de primeiros socorros e encaminhamento de vítimas para postos de triagem”
- “Colaborar na sinalização relativa a cortes de estradas originado por acidentes ou por fenómenos meteorológicos, bem como as vias alternativas”
- “Cada colaborador será responsável por manter o rádio Alinco DJ-500 que lhe for atribuído fisicamente acessível e devidamente operacional. As baterias, principal e suplementar caso exista), devem ser carregadas de 2 em 2 meses. O LED transitará de vermelho para verde após concluído o carregamento. Após o carregamento o rádio deve ser mantido fora da base”
- “A elevada densidade urbana existente na freguesia, em especial na zona central, impede a propagação desejada do sinal. Em caso de acidente grave ou catástrofe a forma de garantir a cobertura total da freguesia será através da colocação de colaboradores em locais estratégicos de cota elevada atuando como elementos by-pass ou repetidores”
- “Fomentar a evacuação e encaminhamento para os pontos de encontro”
- Definir pontos de encontro, para onde a população se pode dirigir. São eles:
Piscina do Oriente (R. Cândido dos Reis)
IPDJ/ESTSEL (Av. D. João II)
Centro de Dia (R. Pe. Joaquim Alves Correia)
Escola Infante D. Henrique (R. Pe. Joaquim Alves Correia)
Capela da Rua Pe. Abel Varzim
CDOM – Centro Desportivo Olivais e Moscavide (R. João Pinto Ribeiro)
Colégio João XXIII (R. Corsário das Ilhas)
Hospital CUF Descobertas (R. Mário Botas)
Igreja Mórmon (Av. D. João II)
Sabia que…?
A zona do Parque das Nações é uma das que apresenta maior vulnerabilidade sísmica.
O PLE da freguesia prevê que, em caso de cheias, “o efeito de maré direto afete toda a extensão nascente da freguesia em cerca de 50% da sua largura”. E que: “Por analogia com a ocorrência de 1755, haverá um período de cerca de 30 minutos entre o efeito produzido em Lagos e repercutido em Cascais e, atendendo ao estuário do Tejo, um período de cerca de 15 minutos entre Cascais e a Praça do Comércio.
Não havendo conhecimento do hiato de tempo entre a Praça do Comércio e o Parque das Nações/Mar da Palha, admitimos poderem decorrer cerca de 5 minutos até alcançar a zona ribeirinha da freguesia”.

Olivais compromete-se a:
- “Quando estivermos perante a ocorrência de acidente grave ou catástrofe e, no caso de as comunicações terem sido afetadas, e não for possível contacto com o SMPC Lx, a presidente da Junta de Freguesia de Olivais deverá acionar o COE e o PLE- Olivais, de acordo com a Diretiva Operacional Nacional que define o estado de alerta para as organizações integrantes do Sistema Integrado de Proteção e Socorro (SIOPS)”;
- “A Junta de Freguesia deverá estabelecer um programa anual de exercícios, com o intuito de testar o PLE e o COE, bem como, a articulação com o voluntariado. Pretende-se com os exercícios a aquisição de conhecimentos e competências cada vez mais aperfeiçoadas para o melhor desempenho das suas atuações”;
- Definir “ponto(s) de encontro”, “zonas de concentração de população de fácil acesso e do conhecimento geral da população. Sempre que for possível, com acesso a infraestruturas básicas”. São eles:
Frente ao mercado da Encarnação Sul – Praça das Casas Novas
Instalações desportivas ADCEO (Rua Quinta de Santa Maria)
Alameda – Quinta de Santa Maria
Parque Vale do Silêncio (Avenida Lourenço Marques)
Campo Sport Lisboa e Olivais (Rua Almada Negreiros)
- Definir locais de abastecimento de água (potável), alimentação, postos de socorro, etc. São eles:






A freguesia apresenta ainda um mapa que regista o seu risco sísmico, por zonas:


Campo de Ourique
compromete-se a:
- “Recrutar e organizar o voluntariado da freguesia por áreas de resposta, mantendo-os informados e treinados”
- “Apoiar no reconhecimento e avaliação de situação e na sinalização de vítimas”
- “Apoiar a população nas primeiras horas de socorro”
- “Criação de pontos de concentração e registo da população afetada”
- “Apoiar a distribuição de água, agasalhos e outros bens/serviços relacionados com as necessidades básicas da população”
- “Instalar e gerir os locais de recolha de dádivas”
- “Inventariar as infraestruturas presentes na freguesia”
- “Caracterizar e recensear a população vulnerável”
- Definir os pontos de encontro (“zonas de concentração da população, aquando de um acidente grave ou catástrofe em que seja necessário proceder à evacuação de pessoas”) e Zonas de Concentração e Apoio à População – ZCAP (“local seguro para indivíduos e famílias poderem pernoitar ou descansar e oferecer, entre outras, alimentação, e suporte logístico, apoio psicossocial e informações sobre o desenvolvimento das operações de socorro”). São eles:
PONTOS DE ENCONTROS:
Adro da Igreja do Santo Condestável (Rua Francisco Metrass, diante da igreja)
Pátio das Sedas (Rua de Campo de Ourique)
ZONAS DE CONCENTRAÇÃO E APOIO À POPULAÇÃO:
Escola Secundária Josefa de Óbidos (Rua Coronel Ribeiro Viana)
Escola Secundária Pedro Nunes (Av. Álvares Cabral)
Escola 2,3 Manuel da Maia (Rua Freitas Gazul)
- Definir ainda os equipamentos de utilização coletiva que “possam dar apoio às operações durante a emergência”. Consulte-os aqui.
Na freguesia de Campo de Ourique, além de apresentar o seu PLE, a Junta lança uma proposta diferente: a criação de um Plano Familiar de Emergência (PFE), um documento para as famílias saberem como lidar com catástrofes e outros acidentes. Porque a prevenção pode começar nas nossas casas.
Esta proposta de Campo de Ourique inclui a sugestão – entre outras – de identificação de “dois pontos de encontro da família, numa situação de emergência: um local fora de casa, a uma distância segura, e outro fora do local da residência, em caso de ficar impossibilitado de regressar a casa”. E ainda a “realização de uma inspeção a toda a casa à procura de potenciais riscos, com a execução de ações relativamente simples”.
- Fixar às paredes as estantes, as garrafas de gás, os vasos e as floreiras;
- Colocar os objectos mais pesados ou de maior volume no chão ou nas estantes mais baixas;
- Não colocar vasos ou floreiras nos peitoris das janelas ou varandas;
- Libertar os corredores e manter os móveis arrumados de forma a facilitar os movimentos;
- Nas escadas e patamares ter apenas os vasos de plantas que não dificultem uma evacuação;
- Identificar os locais que oferecem maior protecção em caso de desabamento: debaixo de vigas, de mesas, de vãos de portas;
- Fazer limpezas gerais periódicas aos locais normalmente pouco utilizados ou de difícil acesso (sótãos, arrecadações, arquivos, etc.) para não permitir a acumulação de poeiras ou de lixos (combustíveis potenciais);
- Proceder às verificações/reparações apropriadas em todas as instalações que, por deficiência de execução, conservação ou funcionamento podem dar origem a explosões, focos de incêndio, intoxicações e electrocussão;
- Não deixar medicamentos, fósforos e isqueiros ao alcance das crianças.
- A junta de freguesia propõe ainda que cada família tenha “em condições de permanente utilização” materiais como um extintor de pó químico (e carregado), ferramentas consideradas essenciais, um rádio com pilhas de reserva, uma lanterna, medicamentos fundamentais para toda a família, roupa e agasalhos.
Que boas práticas podemos importar?
China, Irão e Turquia. São os três países classificados pela USGS (Serviço Geológico dos Estados Unidos . United States Geological Survey) como as nações que sofrem os terramotos mais catastróficos em relação a danos materiais e mortes.
Mas é comum lembrarmo-nos do Japão, por exemplo, localizado em cima do que chamamos “anel de fogo”, no Norte do Oceano Pacífico, uma área onde há um grande número de terramotos e uma forte atividade vulcânica.
É, por isso, um dos países onde há mais sismos registados e também um dos mais preparados: “simulacros nas escolas e nas empresas, construção anti-sísmica rigorosa, uma mochila de emergência em cada casa e um aviso por telemóvel” são algumas das medidas ali adotadas, como lembrava esta semana Filipe Santos Costa, jornalista a viver em Tóquio. Todos os vidros têm proteção de malha, por exemplo.
O professor catedrático Carlos Sousa Oliveira, especialista nesta temática, fala-nos precisamente de um alerta sonoro de sismo, uma tecnologia que os japoneses “andam a estudar há milénios”. Explica que “há umas primeiras ondas que andam mais depressa do que as outras” e “se conseguirmos detetar essas primeiras ondas (as conhecidas ondas P), vemos que trazem consigo a assinatura do que vem a seguir” e conseguimos ganhar tempo de reação.
“Com dois segundos de registo, conseguimos saber se é um sismo grande e qual o seu epicentro. Aqui, em Lisboa, 20 segundos seria o suficiente para conseguirmos meter-nos debaixo de mesas ou para, num hospital, não faltar a luz num bloco operatório.” É uma prática no Japão e também no estado norte-americano da Califórnia. “Nós estamos numa situação em que tal é possível fazer, por isso, devemos fazê-lo já.”
No que diz respeito à construção dos edifícios, João Azevedo, presidente do SPES, aponta uma solução técnica, que dá “patins” aos edifícios. É o chamado “isolamento de base” e “é como se puséssemos os edifícios em cima de uns patins, são literalmente umas borrachas que permitem que, quando há um sismo, a infraestrutura vibre como um todo, muito lentamente, “como se tratasse de um pequeno abanão”. A vantagem “é que não só o edifício não colapsa como, por exemplo, um cirurgião que está a operar na altura do sismo pode continuar”.
O sistema já é obrigatório em diversos países na construção de hospitais, como Peru e Turquia. E mesmo em determinados países em que não é obrigatório já nem se pondera a não aplicação, de tão comum que se tornou esta prática. No Japão, a maioria dos edifícios são construídos com este sistema. Na Nova Zelândia e na Itália também. Nos EUA, são extremamente comuns: um dos capitólios de um dos estados, um edifício antigo, já sofreu esta intervenção.
Em Lisboa há pelo menos um edifício com isolamento de base: o Hospital da Luz, em Lisboa.
Se a técnica não é mais utilizada, é porque a própria comunidade técnica ainda não está sensibilizada para a sua importância. A poupança, por outro lado, não deve ser desculpa. “Se o edifício estiver sobre este sistema, não vai estar sujeito a tantas ondas sísmicas e, por isso, pode haver uma poupança na parte de betão armado”, explica o especialista.
Luís Matias, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que há anos estuda a perigosidade sísmica, explica que o risco de Lisboa deve-se sobretudo “à concentração de atividade económica e de habitação em Lisboa”. “O risco nesta região (Lisboa e Vale do Tejo) é por essa razão e não pela atividade sísmica.” A região de Portugal de maior risco sísmico alinha-se com outras zonas do país, como o Algarve e o Baixo Alentejo.
Então, como prevenir? Não há uma fórmula mágica, cada edifício tem as suas vulnerabilidades”, acrescenta João Azevedo. As casas antigas são de alvenaria, um modelo não muito seguro, “altamente comum em Lisboa”. Depois, lembra, “há os edifícios gaioleiros, uma imitação da gaiola pombalina, mas muito frágeis”. “Mesmo esses já estão completamente esventrados, porque se foi destruindo e acrescentando coisas – muitas vezes por questões estéticas.”
A memória também pode ser uma arma, embora não pareça ser um recurso muito utilizado. Um documento redigido pelo Instituto Superior Técnico dizia isso mesmo e apontava três principais razões. Não há muitos portugueses que possam dizer que tenham sentido um sismo de grande impacto, com exceção daqueles que residem nos Açores, ilhas fustigadas por abalos frequentes. Por outro lado, os portugueses acreditam que a proteção de edifícios foi tida em conta por quem constrói, o que pode não acontecer. Depois, há incutida esta ideia de que pouco se pode fazer para proteger uma cidade de um sismo, o que é falso.
Lisboa prepara app para cidadãos
É por isso que desde há uns tempos uma equipa de especialistas está a trabalhar com a Câmara Municipal de Lisboa num programa de prevenção onde se inclui um indicador de vulnerabilidade sísmica, o ReSist. Ou seja, uma escala que dirá aos lisboetas qual o grau de resistência dos edifícios a um sismo.
Imagine um sistema através da qual seria possível avaliar a força da nossa casa para resistir a um sismo – é isso que se compromete a ser o indicador de vulnerabilidade sísmica. Foi desenvolvido por especialistas do Instituto Superior Técnico (IST), do Centro Europeu de Riscos Urbanos e da Universidade de Lisboa. O desafio foi lançado pela Câmara Municipal de Lisboa e integra o programa municipal de promoção de residência sísmica. Está sob coordenação da direção municipal de Habitação e Desenvolvimento local, com os serviços municipais de urbanismo, proteção civil, gestão patrimonial e sistemas de informação.
Através deste indicador, será possível analisar a estrutura de um edifício e, a partir de mais de 40 parâmetros, atribuir-lhe uma cor do semáforo: quanto mais perto do vermelho, menos seguro será. Um pouco à semelhança da famosa matriz de risco de covid-19. Os parâmetros, esses, são absolutamente técnicos e têm a ver com o sistema de construção, o ano em que foi construído e os materiais escolhidos.
“Dá vermelho? A casa deve ser reforçada”, diz Carlos Sousa Oliveira, professor de Mecânica Estrutural e Engenharia Sísmica do IST e um dos autores do indicador.
O resultado, claro, “pode jogar com o valor das casas, com o mercado imobiliário. Além de que os interesses que existem para que os resultados de um determinado edifício sejam bons ou maus tornam as coisas frágeis nesta área”, diz o especialista.
Essa é uma das razões que têm levado ao cuidado na implementação destes processos – este, por exemplo, ainda não foi posto em prática, apesar de estar há anos em estudo. O trabalho bebeu num modelo anterior, de Francisco Mota de Sá, tendo sido alargado e calibrado. Agora, a Câmara Municipal de Lisboa está a transformar o ReSist numa app para os cidadãos, que se chamará LxReSist, e onde se pode consultar a vulnerabilidade dos edifícios.
Até então, a única informação referente ao edificado partia dos resultados do Censos de 2011, embora “muito simplificada” e com base em inquéritos. “Esta é mais rica que a do Censos. Quem preenche esta ficha é um técnico e demora cerca de meio dia a fazer a avaliação, entre todos os andares”, explica o especialista.
O protótipo está pronto e, de acordo com o investigador que foi entrevistado pela Mensagem no ano passado, aguardava apenas algumas afinações. Entre elas, definir quem deverá ficar encarregado de preencher a ficha de avaliação do edifício que se traduz, depois, num semáforo. “Tem de ser alguém com know-how e, por isso, já demos cursos a engenheiros da autarquia”, explica.
Mas levanta outra questão, mais complexa e que pode muito bem implicar uma revolução no parque urbano de Lisboa. O que fazer com o edificado que se situar no ponto vermelho deste semáforo, que obrigações devem seguir-se?
Outros documentos que pode consultar sobre o tema:
*Texto originalmente publicado a 30 de agosto de 2024

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Notícia super completa, importante e necessária, parabéns! Acho que também seria importante termos informações na área metropolitana de Lisboa. Sou de Almada e não tenho informações sobre o impacto de um sismo aqui.
Algo preocupante é apenas as 560 mil pessoas do município de Lisboa estarem preparadas. E as restantes 2.3 milhões de pessoas da Área Metropolitana de Lisboa? Não vão ser afetadas pelo sismo, o mesmo não ultrapassa as fronteiras dos 100 km2 de Lisboa? Mais, caso os municípios à volta de Lisboa colapsar em, não vão as centenas de milhares de pessoas “invadirem” o município de Lisboa em busca de suporte, água potável, cuidados médicos, etc? Está o município de Lisboa preparado para isso?
Gostaria de saber se as Câmaras dos concelhos limítrofes de Lisboa,e no meu caso concretamente no concelho da Amadora também existem planos de evacuação e não só tão bem elaborados? Obrigado
Estou admirada com o que já está organizado para superar um Sismo , grande ou pequeno, em Portugal. Desejo a continuação desse trabalho importantíssimo e que o apoio da população seja enorme . Muito obrigado
Parabéns pela matéria. Gostaria de saber se Príncipe real é área de risco ou segura. E onde se abrigar na região
Agradecida por este artigo. Embora não resida em Lisboa, nem na sua área metropolitana, muito do que está escrito é um excelente recurso para todo o país. Não fazia ideia de que existia tanto material elaborado.