Cunhado pelo urbanista Carlos Moreno, o conceito de cidade dos 15 minutos tem vindo a ser apontado como modelo para a qualidade de vida nos centros urbanos, preconizando um modelo de urbanismo em que as necessidades de quem habita na cidade podem ser satisfeitas num raio de 15 minutos, a pé ou de bicicleta. Foto: Rita Ansone

Confrontado com a necessidade imperiosa de ter de escolher uma (ou duas) palavra(s) para definir “Comércio“, a minha opção recairia na(s) palavra(s) “Proximidade” e … “Encontro”.

Bem sei que não seria politicamente correto, nem pareceria tecnicamente competente, se aqui pudesse deixar palavras que denunciassem algum tipo de reserva ou desconforto para com esta era da digitalização que vivemos, bem como perante todo esse manancial de conceitos e derivas afins com que insistentemente nos debatemos.

De facto, não tenho preconceitos em relação ao tempo do digital, mas digamos que não é um tempo que me faça (re)pensar a vontade de continuar a defender os tempos do Comércio e a sua … Proximidade e/ou abordar e refletir sobre o seus (des)Encontros!

Claro está que o Comércio pode ser digital, é digitalizável, porém, tenho para mim que, a sua Proximidade não o será.

Para quem possa estar a percecionar esta “Proximidade” como algo tão só relacionado com comércios de bairro, de menores dimensões, pequeno, tradicional ou em vias de extinção, não é essa a … proximidade a que me quero referir.

A “Proximidade” de que escrevo é a coincidência entre a oferta e a procura, é a interação entre as partes, é a relação que se estabelece entre ambas, é a personalização, é o social, é o relacionamento, diria, para simplificar, é a vida vivida, como nos canta o conhecido fado. Em suma, será o “Encontro”!

A dúvida, essa permanecerá: é o tempo que passa por nós ou somos nós que passamos pelo tempo? Uma coisa é certa, nós passamos, mas o tempo fica, … voltando ao mesmo fado.

Ora, é exatamente assim que tudo ocorre com os comércios do nosso Comércio!

Daí, as palavras – “Proximidade” e “Encontro”.

Por tudo isto e mais um ou outro ponto que não importa, nem caberá, aqui aprofundar, diria que os novos paradigmas do Comércio na prática são, afinal de contas, os de sempre. À semelhança daquilo que muitos opinaram aquando do período da pandemia, recorrendo à ideia (talvez tivesse mais de ideal do que propriamente de ideia) de entrarmos num “novo normal“, o que se verifica é que voltámos muito rapidamente ao “velho (a)normal” que já antes vivíamos.

Apenas, quiçá, mais um … desencontro, talvez o que resultou do “DesComércio” que se viveu, ao qual se sobreviveu, o qual não queremos, decerto, voltar a viver!

Também no caso do Comércio, afigura-se que os novos paradigmas possam ser afinal os … velhos paradigmas, ou seja, a Cooperação, o Associativismo e … a Proximidade, o Encontro.

Afinal, e servindo-me das bases e das narrativas que devem sustentar o pensamento prospetivo, arrisco deixar aqui narrado: o futuro do comércio está … no comércio do passado!

O Comércio de Proximidade precisa, essencialmente, de encontros, dos seus, dos outros e dos seus com tantos outros, mas deste Encontro, precisamente, já precisava há muito.

Que seja, então, um dos primeiros, de muitos outros encontros cada vez mais … próximos!

João Barreta é especialista em gestão do território e especialista em Urbanismo Comercial, ex-Diretor Municipal das Atividades Económicas da Câmara Municipal de Lisboa, membro da Direção da extinta-Agência para a promoção da Baixa-Chiado. Foi galardoado com o Prémio Mercúrio 2022 – “O Melhor do Comércio e Serviços”.

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1 Comentário

  1. Parabéns por mais um excelente artigo! Proximidade e encontro são duas palavras muito bem escolhidas, eu acrescentaria se fosse possível a identidade e a autenticidade porque são fatores importantes que contribuem para a atractividade do produto, dos estabelecimentos comerciais e da qualidade do serviço (sobretudo no atendimento). Abraço

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