Quinta da Pailepa, barraca 3091A, freguesia de Santa Clara, Lisboa. “Tudo começa com a terra batida”. Um lugar pouco óbvio para se tornar casa e bairro, onde a chegada do inverno traz pés sujos e molhados e o verão parece um pouco mais tórrido.

“Depois a estrada é alcatroada, já temos canos e tu pensas que já não vais sair dali.” Mauro Wah chegou de Moçambique com quatro anos ao velho bairro da Pailepa, um bairro de autoconstrução onde a avó já tinha morada e uma família.

Estava de visita, mas acabou por ficar, à responsabilidade da avó, conhecida como a costureira do bairro e uma pessoa com boas mãos para a cozinha.

Mauro ganhou amigos e visitava a casa deles como se da sua se tratasse. Incentivado pelos pais destes amigos, que faziam tantas vezes o trabalho de pais dele também, começou a trabalhar cedo para apoiar as necessidades familiares. Foi ali que se tornou homem adulto, sente.

Mas, um dia, o “zum-zum” que andavam a ouvir há anos sobre um programa do Governo que ia mudar-lhes o teto e a vida confirma-se. “Foi o período mais complicado da minha vida”, conta. Ele estava grato por uma casa aparentemente com melhores condições, mas tudo o resto faltou.

PER – Programa Especial de Realojamento nascia em 1993 como o maior programa público de habitação alguma vez concretizado no país desde que Portugal abriu portas à democracia. Foi desenhado com um propósito específico: erradicar as chamadas barracas, bairros de autoconstrução, que se tinham proliferado nos últimos anos. Só na capital, neste ano, havia mais de 37 mil pessoas a viver em casas precárias – mais de 10 mil barracas.

A Mensagem lança agora o segundo de três episódios da 3.ª temporada da série documental “Cidades para quem?”, dedicada aos 30 anos desde o PER. Uma série criada no ano passado e que escrutina como o planeamento urbano (ou a falta dele) na Área Metropolitana de Lisboa influencia a vida de milhares que nela vivem e trabalham.

Conheça aqui as histórias desta temporada.

Assista ao 2.º episódio:

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