Lisboa Antiga Terreiro do Paço
Foto: Arquivo Municipal de Lisboa

Lisboa é uma cidade com memória e de memória. Da reconquista aos mouros, expansão, terramoto de 1755… A história está marcada na rua, mas para encontrá-la, é preciso “abrir o olhar da imaginação”. É essa a proposta de Rui Tavares, vereador do LIVRE na Câmara Municipal de Lisboa. Quando escreveu O Pequeno Livro do Grande Terramoto, viu as ruas da sua cidade ganharem uma outra dimensão: “Passei a ver as ruas que lá estão mas também as ruas que lá estiveram”, conta. São essas ruas de outros tempos que o vereador quer evocar com a proposta de criação de um Museu Narrativo de Lisboa.

Dia 18 de maio, quando se celebra o Dia Internacional do Museu, o LIVRE propõe à Câmara Municipal de Lisboa a criação deste museu, um museu diferente de todos os outros: não depende do acervo, nem de uma sede específica e que vai para além das recordações fechadas em salas. Seria um museu que viveria das ruas e nas ruas.

Roteiros, encenações, elementos memoriais

Este é um conceito que já existe noutros países, e que teve como grande inspiração o Tenement Museum, em Nova Iorque, que conta as histórias da classe trabalhadora que imigrou para a cidade no século XIX para as chamadas “tenement houses” (edifícios com várias habitações), no lower east side.

O Tenement Museum, em Nova Iorque, é uma das inspirações deste Museu Narrativo.

Também o Lucas Museum of Narrative Art serviu de exemplo. Este é um museu fundado pelo cineasta George Lucas e a mulher Mellody Hobson e que está neste momento em construção em Los Angeles. O grande objetivo? Contar histórias de forma imersiva.

Essa seria a ideia do Museu Narrativo de Lisboa: contar as histórias de Lisboa através de roteiros temáticos, pedestres, cicláveis ou recorrendo-se a outros tipos de transporte.

Para isso, o LIVRE propõe a integração do trabalho já feito pelo Museu de Lisboa, recuperando-se algumas das visitas e dos passeios já promovidos pelo município. A ideia é também cavar ainda mais fundo, para se contar um lado desconhecido da cidade: a Lisboa muçulmana, a Lisboa judaica, a Lisboa dos refugiados, a Lisboa da escravatura.

O Largo onde poderia começar o roteiro da Lisboa dos refugiados – e que o LIVRE quer ver batizado como Largo Hannah Arendt. Foto: Partido Livre

Imagine-se um roteiro da Lisboa dos refugiados a começar naquele que o LIVRE propõe ser o Largo Hannah Arendt, entre a Rua da Sociedade Farmacêutica e a Rua do Conde de Redondo, na freguesia de Santo António, onde a filósofa judia, refugiada da França ocupada pelos nazis, viveu.

Ou um roteiro da Lisboa judia, que celebre os 300 anos de António José da Silva, o dramaturgo que viveu em Lisboa e foi queimado na fogueira pela Inquisição.

À frente destes roteiros temáticos, Rui Tavares gostaria de ver jovens estudantes, recém-licenciados e formados para este tipo de passeios, estabelecendo-se parcerias com instituições de ensino superior e organizações da sociedade civil que contribuíssem para a investigação da História da cidade.

O LIVRE propõe ainda encenações e performances históricas (algo que por vezes já acontece no Teatro Romano de Lisboa), a instalação no espaço público de elementos memoriais e a sinalização da História dos percursos bem como a ligação a um portal agregador de toda a informação através de um QR Code.

Este Museu Narrativo quer também recolher as histórias orais daqueles que, por exemplo, chegaram a Lisboa em períodos como o das migrações rurais – um pouco ao estilo do Tenement Museum.

A própria mãe de Rui Tavares, uma jovem aldeã, chegou a Lisboa aos 17 anos em 1948. “Sei que ela tem muitíssimas histórias para contar”.


Ana da Cunha

Nasceu no Porto, há 26 anos, mas desde 2019 que faz do Alfa Pendular a sua casa. Em Lisboa, descobriu o amor às histórias, ouvindo-as e contando-as na Avenida de Berna, na Universidade Nova de Lisboa.

ana.cunha@amensagem.pt

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