Talvez nunca a família Franco tivesse imaginado onde poderia chegar a sua Casa dos Frangos de Moscavide, na Praça Cidade do Luso, nos Olivais. Em 1961, uma década depois de terem chegado à capital, vindos de Castelo Branco, o objetivo de Abílio Franco, o fundador, e família era abrir uma pequena churrasqueira na zona onde viviam, de modo a trazerem “o quintal e o galinheiro, a churrasqueira e o ar livre”, conta o neto.
O tempo e a fama fizeram alargar os horizontes. E hoje, em qualquer dia, até às 22 horas brilham os néons e pessoas entram e saem a um ritmo constante. “São muitos anos a virar frangos”, diz João Franco, o bisneto. “O negócio sempre foi da família e continua a ser”.

João tem 28 anos e está à frente de uma nova fase deste famoso negócio: licenciou-se em Gestão, na Universidade Nova de Lisboa e desde que terminou o curso, trabalha para relançar e modernizar a marca. Com o seu pai, José Franco, gere a marca e os restaurantes, desde as plataformas de delivery aos fornecedores.
Nesse sentido tem vindo a expansão, garantindo que “chegam à maior parte das zonas de Lisboa, pelo menos através serviço de delivery”. Já existem cinco lojas da Casa dos Frangos de Moscavide, daquela localidade de Loures até ao Restelo, dos Olivais, passando pela Expo e Alcântara. “Vamos abrir também uma loja no Saldanha”, antecipa João,
Nem tudo foi sempre fácil e João conta uma história que passa por adaptação aos novos tempos e realidades. “Estivemos em centros comerciais sob outra marca. Em 2012, com a crise, tivemos que fechar.” Já em 2017, das quatro lojas que abriram – Restelo, Expo, Alcântara e Benfica – uma não vingoum “a de Benfica, foi aquela a que demos menos atenção.


Algo de importante mudou: um negócio que tradicionalmente assentava no take-away tem passado progressivamente a depender das entregas. “Em 2018, aderimos a todas as plataformas”, diz João Franco, acrescentando que, se inicialmente os serviços de entrega “representavam entre 10 a 15% das receitas”, com a pandemia houve mudanças drásticas.
“Com os confinamentos, as pessoas não podiam sair de casa e, mesmo quando começaram a poder, achavam que estávamos fechados”, conta. Como consequência o serviço take-away diminuiu radicalmente e, numa proporcionalidade inversa, a utilização de plataformas de delivery, por parte dos clientes, aumentou bastante. “Passou a representar 25-30% do negócio.”
Assar à africana e com carvão vegetal
Foi na mouche, especialmente nas lojas com pior acesso. Os Olivais são uma exceção: é a loja que mais vende, e menos em delivery. É aqui que trabalha João Pedro, 25 anos, de Pernambuco, no Brasil, depois de ter passado pela loja de Alcântara. A ponta dos dedos torrada denuncia a experiência na grelha. Quem o vê aqui não adivinha que “nunca tinha assado frangos antes”.

E qual é o segredo do sucesso dos frangos de Moscavide? João Franco diz que “para além do tempero, o que os destaca é a maneira de assar. O segredo tem sido passado de geração em geração”.
Inicialmente, os frangos eram assados inteiros, como se fossem no espeto. Mas, com a independência dos países africanos que eram colónias portuguesas e o regresso daqueles que lá viviam, surgiu a tradição de os assar abertos porque “em África os frangos eram feitos abertos”, explica João.
A Casa dos Frangos de Moscavide opta também por utilizar brasa de carvão vegetal. Franco assegura que “esse é um dos fatores diferenciadores”.
Quando João Pedro começou a trabalhar na churrasqueira teve de aprender alguns aspetos sobre a brasa em carvão vegetal: “Se tiver uma chama, é preciso apagar, se tiver o lume muito forte, é preciso baixar. É preciso ver se os frangos não estão a queimar ou se ainda não estão cozinhados por dentro. É necessário estar atento!”
Ao dizer isto, João Pedro desloca-se para a grelha, cortando os frangos em pedaços e indicando, pelo silêncio, que se preparava para começar a receber pedidos para o almoço.
Os dias de maior azáfama são sexta-feira à noite, sábado e domingo – “são dias muito concorridos”, diz João e explica que quando as filas se acumulam é nos dias de jogos de futebol. “Já faz parte do ritual de ver a bola, não é?”, diz, a rir.
João conhece os clientes pelo nome. “A Isabel todos os sábados liga por volta das 11 horas, pede um frango com muito picante, batatas, esparregado e uma lata de guaraná.” E às duas da tarde, lá está, junto ao balcão, à espera do pedido.


A loja dos Olivais mantém as mesmas instalações desde que abriu. João Franco fala em “fazer um projeto de arquitetura loja a loja”. Acrescenta, ainda, que há a ideia de “estender as opções, por exemplo vegetarianas”.
Mas é um receio da família Franco que a marca perca identidade e a afinidade com as origens, por isso, todos estes processos têm de ser ponderados: “Não posso chegar, revolucionar tudo e perder o passado, a história e o que nos faz ser aquilo que somos hoje. É sempre preciso tomar as decisões com calma, sem serem muito bruscas”, assegura João.
A Casa dos Frangos de Moscavide continua a fazer parte da paisagem. Clientes habituais ou clientes esporádicos. Frango com molho de limão ou frango com picante. A história mantém-se intacta e os olhos no futuro também.
* Patrícia Marques é aluna de Ciências da Comunicação da FCSH-UNL, a especializar-se em Cinema e Televisão. Para além de fazer filmes, tem também uma paixão crescente pela escrita e pelo jornalismo. Alfacinha apaixonada pela cidade, as desavenças familiares fizeram com que vivesse em várias zonas de Lisboa. Atualmente, reside nos Olivais Sul, junto ao Vale do Silêncio, um pequeno oásis de paz dentro da cidade. Está a estagiar na Mensagem de Lisboa. Este texto foi editado por Catarina Pires