“It’s a new day, it’s a new life, for me, and I’m feeling good”. Os versos da canção “Feeling Good”, que Nina Simone tornou conhecida na década de 1960, parecem encaixar-se na história de Vanessa G Naumann.
O autor de People of Lisbon, Stephen O’Regan encontrou-a no Instagram e convidou-a a fazer parte do projeto. Tem faro, o irlandês.
Vanessa, de 28 anos, nasceu em Berlim e desde os 18 que vive aqui e ali e por todo o mundo. Há quatro anos escolheu Lisboa como a sua base, no ano passado decidiu largar uma bem sucedida carreira na área da tecnologia para ser terapeuta do som.
“Não foi fácil para mim crescer na minha família, tinha muitas responsabilidades desde muito cedo. O que eu mais queria era fazer 18 anos e sair da Alemanha”, conta. Escolheu o sítio mais longínquo: Austrália. Tinha três empregos mas a vida nunca fora tão divertida. Da Austrália viajou para a Nova Zelândia e depois para as Filipinas e Tailândia. Um ano depois estava nos EUA: fez coach surf em Los Angeles e São Francisco, viveu em Nova Iorque. Entretanto, regressou a casa e fez aquilo que era esperado de uma jovem que já viajara e que tinha de definir o rumo – foi estudar.
Apesar de sempre ter adorado música – toca vários instrumentos e sempre cantou -, decidiu tirar o curso de Gestão Internacional de Negócios. Começou a trabalhar em startups de tecnologia e viajou por toda a América do Sul – chegou a viver no Brasil -, até que uma conferência a trouxe a Portugal, país que não conhecia. Era novembro de 2017. “Lembro-me que estava um tempo inacreditável. Decidi procurar um emprego em Portugal”, conta.
Vanessa Naumann encontrou mesmo um emprego na sua área, mudou-se para Lisboa e um dia sentiu que precisava de parar. “Gastava muito do que fazia, mas estava a pôr o trabalho à frente de tudo: dos meus amigos e família, das minhas relações pessoais”.
Voou até à Asia para um retiro espiritual e foi aqui que conheceu a terapia do som. “Quis experimentar e fiz uma sessão. Lembro-me de ter ficado uma hora deitada no chão, a ouvir o som que uma mulher produzia com as taças, sem me conseguir mexer, a sentir-me completamente relaxada e com lágrimas a escorrerem-me do rosto. Pensei: não faço a mínima ideia do que isto é, mas quero aprender a fazer”.
Dois cursos de terapia do som depois, começou a praticar com amigos em Berlim – foi lá que passou o primeiro confinamento. No ano passado, decidiu dedicar-se inteiramente a esta nova forma de vida. Faz sessões individuais ou em grupo num estúdio da Baixa – mora no Príncipe Real – e os seus clientes são principalmente empreendedores e CEOs de empresas.
Percebe-os bem. “Precisam sobretudo de libertar-se do stress e da ansiedade. A música toca-nos a um nível muito profundo e a experiência não é igual para todos”, explica. No ano que vem, se a pandemia deixar, vai voltar a viajar. Tem pedidos de Espanha e do Brasil de pessoas que querem experimentar esta terapia. Mas conta regressar a Lisboa. Afinal a cidade é hoje a sua casa.
Conheça o projecto de People of Lisbon, que pretende dar a conhecer as pessoas de Lisboa aqui.

Paula Freitas Ferreira
Nasceu em Moçambique e viveu em muitas cidades até chegar a casa, Lisboa. Acredita que os lugares são impossíveis de contar sem ouvir as pessoas e as suas histórias. É jornalista desde o ano 2000 e passou pelas redações do 24horas, Sábado e Diário de Notícias. Colaborou com a Notícias Magazine e escreveu três livros.
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