Já deve ter reparado nas lanternas vermelhas espalhadas ao longo da Alameda e do Martim Moniz, certo? Está inscrito na lista do Património Cultural Imaterial da UNESCO e, tal como o Natal, o Festival da Primavera, ou Ano Novo Chinês, é também um feriado para partilhar amor, paz, felicidade e harmonia. Marca o arranque do calendário lunar chinês: o ano da serpente. E, onde há comunidade chinesa, a festa faz-se. Como em Lisboa, onde esta comunidade cresce há anos e com uma relação histórica com a China.

Como estudante chinês a viver em Lisboa, já entrei em celebração. E, por isso, deixem-me começar por aqui: enviar os melhores votos do povo chinês aos leitores.

E, já agora, por que não apresentar algumas curiosidades sobre o Festival da Primavera que talvez não saiba?

O ano da serpente… mas não da sorte?

Provavelmente já conhece os 12 signos do zodíaco chinês, os “生肖”: rato, boi, tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, cabra, macaco, galo, cão e porco (no zodíaco vietnamita, o coelho é substituído pelo gato). Se já viu o filme “As Aventuras de Jackie Chan”, onde os 12 signos são usados como talismãs, saberá bem do que falo. Cada signo do zodíaco corresponde a um ano, e 12 anos formam um ciclo, o que significa que pessoas com o mesmo signo nasceram com intervalos de 12, 24 ou 36 anos.

A partir de 29 de janeiro, deixaremos o signo do dragão, o único fictício entre os 12 animais, e começaremos um magnífico ano da serpente.

Se nasceu em 2013, 2001, 1989 ou em anos semelhantes, 2025 é o seu ano zodiacal, conhecido como “本命年” (běn mìng nián). Parece ótimo, mas lamento dizer isto: de acordo com as crenças tradicionais chinesas, as pessoas podem ter má sorte no seu ano zodiacal, por isso, seja cauteloso em tudo, pense duas vezes antes de tomar decisões e, se estiver realmente preocupado, pode usar algo vermelho junto ao corpo, já que o vermelho é a cor da fortuna e da felicidade na China.

2025 é um ano especial da serpente. Nos Cinco Elementos Chineses, os “五行”, 2025 corresponde ao elemento madeira, sendo assim o ano da “serpente verde”. Há um provérbio antigo que diz: “明年迎青蛇,百事亦半亦” (míng nián yíng qīng shé, bǎi shì yì bàn yì), o que significa que no ano da serpente verde, as coisas não serão tão fluídas, mas também não serão tão más; com o passar do tempo, tudo terá um bom desfecho no outono ou inverno. Por isso, se acredita nisto, não se preocupe assim tanto com a sorte de 2025: tudo correrá bem.

O envelope vermelho:

Uma das coisas mais emocionantes durante o Festival da Primavera é o envelope vermelho. O que é isto? Um momento em que os adultos da família dão envelopes vermelhos às crianças durante o jantar da véspera do Ano Novo. Dentro, há dinheiro, o chamado “压岁钱” (dinheiro do Ano Novo ou dinheiro da sorte). O valor varia conforme a família, mas as pessoas gostam de colocar notas de 100 yuan, já que a nota de 100 yuan é vermelha.

Não importa quanto dinheiro as crianças recebem dos mais velhos, é sempre um desejo para que cresçam fortes e sábios. Como as crianças podem receber envelopes vermelhos de muitos familiares mais velhos, geralmente acabam com uma quantia considerável até ao final do Festival da Primavera.

Agora, com o desenvolvimento dos pagamentos online, os envelopes vermelhos evoluíram para além da sua forma física e existem digitalmente. Na popular aplicação chinesa WeChat, a função “envelope vermelho” é amplamente utilizada e, nesta ocasião, não se restringe apenas a adultos e crianças, mas também a parceiros, amigos, colegas, vizinhos, companheiros de quarto e colegas de turma.

Uma nova atividade chamada “apanhar o envelope vermelho” emergiu daqui, em que uma pessoa envia um envelope vermelho num grupo e os outros membros podem ganhar um valor aleatório ao clicarem nele – quem receber o maior valor terá sorte.

Jantar da véspera do Ano Novo Chinês

Tal como o jantar de Natal, o jantar da véspera do Ano Novo é indispensável no Festival da Primavera. Uma família junta-se para desfrutar de um jantar sumptuoso enquanto assiste à Gala do Festival da Primavera, um dos cenários mais clássicos da véspera do Ano Novo Chinês. A importância do jantar em família cria a famosa corrida de viagens do Festival da Primavera, uma das maiores migrações populacionais do mundo.

O jantar da véspera do Ano Novo consiste em muitos pratos, e as sobras tornam-se as refeições da família durante os dias seguintes. Além dos pratos comuns, há pratos específicos indispensáveis para o jantar, que variam conforme a região. No norte da China, o jiaozi é o mais popular. A sua forma semelhante a lingotes de ouro dá-lhe o significado de enriquecer ao comê-lo.

Com a promoção da Gala do Festival da Primavera, a tradição de comer jiaozi na véspera do Ano Novo até se espalhou para o sul, embora não seja um costume tradicional.

O bolo de Ano Novo é outro prato de destaque. Em chinês, a expressão “bolo de Ano Novo” é semelhante a “atingir novos patamares no ano que vem”, por isso, também é comido com bons votos.

E o meu prato favorito, o peixe, simboliza o desejo de ter excedentes no ano que vem – em algumas regiões, as pessoas não comem o peixe inteiro, mas deixam a cabeça e a cauda para criar um verdadeiro “excedente”, como forma de cumprir o seu simbolismo.

E as lanternas vermelhas?

Na Alameda e no Martim Moniz, as ruas estão decoradas com lanternas vermelhas, uma organização a cargo da Associação Festival da Primavera Chinesa. O que significam, afinal?

Fazem parte das paisagens mais tradicionais chinesas. Têm uma longa história como ferramenta de iluminação dos antigos chineses, mas simbolizam também sorte, brilho e esperança para o futuro. É por isso que, apesar de atualmente os chineses já não as utilizarem no dia a dia, continuam a ter grande importância durante os festivais.

Com lanternas vermelhas penduradas nesta cidade, o povo chinês transmite um desejo de que todos os males se afastem de Lisboa e que o ano vindouro seja cheio de esperança.

Então: 春节快乐! Feliz Festival da Primavera!

Foto: Inês Leote

Silong Zhao

Nascido e criado na China, sou estudante de línguas, cultura e ciências sociais. O desejo de experimentar um novo estilo de vida e de conhecer um mundo maior me trouxe a Lisboa. Após um ano de estadia, agora procuro descobrir mais coisas interessantes e incomuns sobre esta cidade – daí estar a estagiar na Mensagem de Lisboa.


O jornalismo que a Mensagem de Lisboa faz une comunidades,
conta histórias que ninguém conta e muda vidas.
Dantes pagava-se com publicidade,
mas isso agora é terreno das grandes plataformas.
Se gosta do que fazemos e acha que é importante,
se quer fazer parte desta comunidade cada vez maior,
apoie-nos com a sua contribuição:

Entre na conversa

2 Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *