
É um ícone da capital. O mítico “Amarelo 28” atravessa os bairros típicos, mostra a alma alfacinha e dá a conhecer a Lisboa antiga. O jogo, lançado no Museu da Carris, pretende pôr os lisboetas, e os que não o são, atrás do volante de um dos mais emblemáticos elétricos da cidade.
Criado por Pedro Santos Silva e ilustrado por André Fernandes Trindade, desafia os jogadores a conduzir o elétrico pelas ruas e a ganhar pontos, enquanto viajam pelo centro histórico, num jogo de tabuleiro.

De nove em nove minutos, passa o elétrico 28 pelos bairros lisboetas repletos de história. Foi em 1901 que a primeira linha entrou em funcionamento, transportando os alfacinhas do Cais do Sodré até Algés.
O veículo de madeira , importado dos Estados Unidos, veio substituir as antigas carruagens puxadas a cavalo que eram o principal meio de transporte na época. Só em 1914 é que foi inaugurado o “Amarelo”, como é carinhosamente chamado, e ao longo do tempo foi sofrendo algumas alterações no seu percurso. Hoje, a viagem sobre carris passa pelas subidas e descidas das ruas entre o Martim Moniz e os Prazeres, em Campo de Ourique.
Agora, e sem filas de espera, famílias e amigos podem juntar-se à volta de um tabuleiro e passear pela cidade das sete colinas. Nas várias mesas espalhadas numa das salas do Museu da Carris, miúdos e graúdos preparavam-se para conduzir o elétrico, num tabuleiro ilustrado com as ruas de Lisboa e as respetivas paragens.

O criador Pedro Santos Silva quis criar um jogo que “envolvesse toda a família e em que todos tivessem uma participação ativa”. E assim o fez, durante dois anos e meio de testagens até chegar ao produto final. Só após desenvolver a mecânica do jogo é que o elétrico 28 se afigurou como tema, numa espécie de momento eureka, que permitiu fazer “um tributo a um símbolo importante de Lisboa”, que se encaixava na perfeição no “sentimento e nas mecânicas” do jogo.
“A ideia do jogo é a soma das partes”, explica o seu criador. Pensado para 2 a 4 pessoas, os jogadores fazem o percurso a partir das cartas Monumentos e Pontos Vitória que dão o poder de dirigir o elétrico, recolher os passageiros e, ao mesmo tempo, visitar os 18 monumentos históricos, o que leva à obtenção das respetivas cartas. No final da partida, que se faz numa hora, ganha quem tiver mais Pontos Vitória.
Apesar da “grande paixão por videojogos” e de um mestrado na área, Pedro Santos Silva trocou o computador pelos jogos de tabuleiro há mais de 10 anos. Para além deste mais recente jogo, tem outros três pensados, ainda à procura de uma editora.

Gil D’Orey, entusiasta de jogos de tabuleiro desde criança e fundador da MEBO Games, apadrinhou o Amarelo 28, que vem juntar-se a um portefólio cheio de jogos de tabuleiro inspirados em símbolos nacionais. Tendo a sua editora como objetivo criar para “um público que não está muito envolvido com jogos desta natureza”, têm apostado na criação para toda a família e em temas relacionados com Portugal (Estoril 1942, Castelo S. Jorge, Caravelas) com o objetivo de aproximar o público-alvo português dos jogo de tabuleiro.
Fundada em 2010, a MEBO Games lançou, só no último ano, 20 novos jogos de tabuleiro e já marca presença no mercado internacional. O novo jogo foi divulgado numa versão multilíngue e vai ser apresentado na feira de jogos SPIEL’ 21, em Essen, Alemanha, no dia 14 a 17 de outubro.
“É um desafio intelectual” tanto para as crianças como para os adultos, diz Gil D’Orey, que lamenta que as pessoas não invistam em jogos de estratégia de três horas e continuem a consumir conteúdos de entretenimento de “quinze segundos”.
O mercado de jogos de tabuleiro está em expansão, mas o fundador da MEBO Games acredita que ainda é preciso “educar a malta para a realidade destes jogos mais modernos. Existe muito mais para além do Monopólio”.
* Nascida em Braga, Júlia Mariana Tavares fez de Lisboa casa, com vontade de contar histórias desta cidade cosmopolita e multicultural. Finalista de Ciências da Comunicação da Faculade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Católica Portuguesa, está a estagiar na Mensagem de Lisboa. Texto editado por Catarina Pires.