Bruno Horta Soares veio a pé para a entrevista com a Mensagem na Brasileira. Diz-se um “político não treinado” o candidato da Iniciativa Liberal a Lisboa e fala como tal, parece até mais um consultor – que é o que é, na verdade, e o que vai fazer, já no dia 27 (neste caso vai dar aulas).
Apesar de num dos debates se ter enganado do nome do Centro de Acolhimento para Sem Abrigo do Casal Vistoso, garante que conhece bem a situação – e vale a pena ouvir a conversa que teve com Jorge Costa (o cronista da Mensagem que passou por esta situação) que participou nesta entrevista. Ao contrário do que se poderia julgar à primeira vista, para Bruno o papel do Estado é precisamente o de apoiar pessoas como Jorge. “Eu costumo dizer, deixar fazer quem pode fazer e não deixar ninguém para trás. Nesta parte é que a CML se deve concentrar.”
Essa Lisboa “no terreno”, e que conhecia mal, impressionou-o. “É sempre um choque ver os caixotes, por exemplo, na Av. da Índia. Eu sempre tive uma vida privilegiada, no sentido da casa. Não é bolha, eu vim do Cacém, era a vida normal. Mas os caixotes, ali, ao pé do rio… a tenda, por exemplo multiplica-me a angústia. Um caixote dá a esperança do temporário. A tenda é um clique – temos de fazer qualquer coisa.”

Jorge respondeu-lhe: “Estar a dormir no chão ou numa tenda é a mesma coisa. Somos olhados da mesma maneira – com a tenda ainda damos mais bandeira. Nós os sem abrigo não gostamos de dar nas vistas.”
Ambos falaram de Sem Abrigo na Noruega, Oslo. Bruno conhece bem: “Lá, o estigma é: não há nenhuma razão para tu estares na rua, socialmente a pessoa teve a mesma oportunidade que as outras. Todas as pessoas recebem suficente para viver. Aqui somos todos pobre – estamos a medir a pobreza. Como é que eu posso estar a dar benesses aos jovens quando temos os salários mínimo dos mais baixos da Europa – 70% da população ganha 900 euros (agregados)? Os jovens são os que terão mais capacidade para avançar…”
Redução de impostos, modernização da Câmara, fazer um programa de cem dias – de muito se falou nesta entrevista. Bruno Horta Soares foca-se numa prioridade: Dados. “Dados, dados, dados – o que é preciso é criar uma plataforma de dados para complilar. Tudo pode ser monitorizado para tomar decisões. Por exemplo, fala-se das ciclovias, dos estudos que faltam. Ora um estudo é algo do passado. E não se pode planear uma cidade assim. Tem de se olhar para o futuro”.
Um dos dados que já se conhecem são os da emissão de gases com efeito estufa. Isso não torna as prioridades para a mobilidade da Iniciativa Liberal um pouco irrealista? “As decisões têm de ser dinâmicas. O que me choca é dizer, acaba-se com os carros e acabou. A sensação de dizer que há soluções fáceis para problemas complexos. Eu sei, como gestor de risco, o que é o risco climático.”
A convera terminou com Bruno a dar os conselhos a Jorge. De um liberal a uma pessoa que acabou de estar numa situação de sem abrigo. Vale a pena ouvir.
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